O refúgio do Sertão: Sítio em Potengi se torna referência em observação de ave
- 22/06/2024
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Jefferson Bob repõe diariamente alguns alimentos nos comedouros do museu. Foto: Cícero Dantas
O Ceará se tornou rota turística para os amantes da natureza. Seja pelas suas serras, litoral ou chapada. Com uma rica biodiversidade, o estado oferece inúmeras oportunidades para o ecoturismo. Entre elas, a observação de aves tem se destacado como uma atividade em crescente demanda.
De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará (Sema), o Brasil abriga cerca de 1.971 espécies de aves, sendo 293 exclusivas do país. Desses, 558 se encontram no Ceará, sendo 55 ameaçados de extinção e uma endêmica do estado, como é o caso do soldadinho-do-araripe. A espécie só existe na Chapada do Araripe, sendo o responsável por colocar a região na rota dos observadores de aves.
Com uma crescente demanda nos últimos anos, o Sítio Pau Preto, localizado em Potengi, distante a aproximadamente 94 km de Juazeiro do Norte, se tornou ponto de parada obrigatória para os observadores de aves que buscam admirar a avifauna da Caatinga.
Em 2019, o espaço se tornou o Museu Casa dos Pássaros do Sertão e foi incluído no projeto de museus orgânicos do Serviço Social do Comércio (Sesc), como um espaço de observação e fotografias de pássaros, sob o comando do biólogo Jefferson Bob.
Museu Casa dos Pássaros do Sertão se tornou espaço de observação e fotografias. Foto: Jefferson Bob
A casinha
A história do Museu Casa dos Pássaros do Sertão começa na década de 1930, quando o casal Abraão Gonçalves de Pinho e Ana Gonçalves de Pinho e sua filha de cinco anos de idade, Josefina Zizi da Conceição, se mudaram para a propriedade para trabalhar com pecuária bovina.
Nas décadas seguintes, Zizi da Conceição constituiu sua família na localidade. Casou-se com Mário Gonçalves e, juntos, tiveram nove filhos. Um deles foi Mário Gonçalves Filho, o filho mais novo do casal, responsável por construir a casinha, que hoje abriga o Museu Casa dos Pássaros do Sertão.
Localizado no meio da Caatinga, o Sítio Pau Preto se tornou espaço de observação e de fotografia de aves Jefferson Bob, filho mais velho de Mário Gonçalves Filho. Bob, como é popularmente conhecido, teve sua vida conectada ao sítio desde a infância. Desde criança tenho essa ligação com a natureza e com os bichos. Sempre frequentei esse sítio e a mata ao seu redor, contou Bob. O biólogo compartilhou que sua percepção com os animais mudou na adolescência, quando passou a alimentar as aves na varanda da sua casa.
Culturalmente, quando pequenos, somos ensinados a caçar, a colocar os bichinhos em gaiolas. Mas, a partir da minha adolescência percebi uma beleza nos bichos e que poderia ter esse contato sem precisar colocá-los em risco. Aos poucos, fui percebendo que o jeito mais interessante de vê-los, era colocando alimentação para eles. E como retribuição, eles apareciam como forma de agradecimento. Foi nesse momento, que descobri essa paixão pelas aves, afirmou o biólogo.
Vista da varanda do Museu. Foto: Cícero Dantas
O refúgio do Sertão
Atualmente, o Sítio Pau Preto se tornou referência para quem aprecia a liberdade das aves. Nas palavras de Bob um lugar de acolhida, não só de pessoas, mas também dos pássaros. Porém, para chegar ao status atual, foi necessário recuperar a mata. De acordo com o biólogo, durante sua infância quase toda a área do sítio servia como pasto.
À medida que foi crescendo e se interessando pela atividade de guia de observação de aves, Bob resolveu deixar a natureza agir e se recuperar. Toda essa área [aos arredores da casinha] foi área de pasto. A nossa principal atividade foi deixar a caatinga se recuperar. E assim aconteceu. Hoje temos uma mata que alimenta e abriga os bichos. O Sítio Pau Preto se tornou um refúgio, um santuário para eles, contou.
De acordo com Bob, desde 2017 o sítio trabalha com a característica de alimentar os animais. Alguns comedouros, montados especialmente para a fotografia, foram construídos na frente do Museu. Com poucos minutos, da varanda da casinha, já é possível perceber a diversidade de aves que frequentam o local. Além do barulho dos ventos, o cantar das aves dá um toque singular ao momento.
Jefferson Bob repõe diariamente alguns alimentos nos comedouros do museu. Foto: Cícero Dantas
Atualmente, o Sítio Pau Preto conta com mais de 220 espécies registradas no E-bird. O espaço cresceu e precisou se tornar um local de acolhida para os amantes das aves. Aos poucos fomos adaptamos a casa, criamos hospedagem domiciliar, tudo com financiamento coletivo. Hoje hospedamos pessoas de várias partes do mundo. Turistas de países como os Estados Unidos, Inglaterra, China e Índia, por exemplo, já estiveram por aqui, afirmou Bob.
Além de ser um ponto de observação e fotografia de aves, o Sítio Pau Preto também tem sido usado como uma unidade de reabilitação para alguns animais. Hoje as instituições ambientais buscam parceria com o sítio. Ibama, ICMBio, Polícia Ambiental tem nos procurado para auxiliar no retorno dos bichos para a natureza, especialmente aqueles que vêm de apreensão, contou Bob.
Cícero Dantas
Miséria.com.br